Nos anos 60 e 70 era habitual ver-se na cidade um homem, ainda jovem, de fato-macaco, sempre com um lenço branco no bolso do peito, de cachimbo e a pedalar, muito direito, uma bicicleta estranha, de carreto preso e sem travões. Era o Francisco Finura.
Nasceu em 1929 e começou aos nove anos a trabalhar numa oficina de bicicletas. Depois foi pintor de automóveis, mecânico e outras profissões ligadas aos carros. Foi mergulhador diplomado, excelente nadador e consta que teria salvo dezenas de pessoas prestes a afogarem-se.
A partir de uma certa idade, interessou-se sobre o hipnotismo, telepatia, ilusionismo, magnetismo pessoal e outras atividades mais ou menos esotéricas. Contavam-se na cidade episódios de partidas que os amigos lhe pregavam devido à sua ingenuidade e sinceridade. Mais tarde instalou no Bairro Alves da Silva uma pequena oficina onde começou a produzir latinhas de pasta de atum e sardinha que comercializava nas lojas suas conhecidas.
Um grupo de amigos e conhecidos, nos anos 70, publicou um cartão de apresentação das suas múltiplas capacidade e diplomas, com bom aspeto, que encerrava com uma frase que o tornou inesquecível: “operário especializado em trabalhos não especializados”.
Em 2010 foi homenageado, por um grupo de amigos, num restaurante da cidade. Desse ato foi descerrada uma lápide no local.
Ainda nesse ano foi agraciado com a Medalha de Honra da Cidade, na classe Atividades Culturais.
Faleceu, com 83 anos, a 4 de setembro de 2012 e em abril de 2016 foi inaugurada a Praceta Francisco Finura, em sua homenagem, localizada no Bairro Alves da Silva.
Foi, certamente, a última figura pública popular do século XX em Setúbal.
Professor Alberto de Sousa Pereira