Na área da nossa freguesia encontra-se grande parte da serra da Arrábida, uma zona privilegiada do ponto de vista vegetal e florestal. Basta dizer que na Serra existem mais espécies vegetais que em toda a Dinamarca. Com efeito, na Serra já estão estudadas cerca de 1450 espécies botânicas, algumas das quais apenas se encontram nesta região, mesmo a nível mundial.
Os primeiros estudiosos da flora da Arrábida foram os monges do convento da Arrábida que pacientemente, ao longo de centenas de anos, foram registando as várias espécies.
Mas foi apenas no século XX que os locais mais inacessíveis foram estudados metodicamente. Para isso muito contribuiu o trabalho do engenheiro Gomes Pedro, o mais completo estudioso da flora da Serra. O seu trabalho fundamental, publicado em 1991, “Vegetação e Flora da Arrábida”, ainda hoje é uma base indispensável para o estudo deste assunto. Aliás, o engenheiro Gomes Pedro até descobriu uma espécie desconhecida, um pequeno arbusto, conhecido vulgarmente como trovisco-do-espichel, ver a fotografia junta, que foi batizado na sua homenagem com a designação científica de Euphorbia pedroi.
A Serra da Arrábida foi protegida através do Decreto-Lei n.º 622/76, de 28 de julho. O decreto-lei afirmou que uma das razões da sua publicação era que “Sob o aspeto botânico, esta serra apresenta-se como uma relíquia única do maquis [matagal] mediterrânico, nela subsistindo vegetação natural de importância, não só nacional, como internacional.”
Em 1909 o botânico e naturalista suíço Robert Chodat publicou a obra “Excursions botaniques en Espagne et au Portugal”, na qual escreveu que a Arrábida tinha a flora de serra “mais surpreendente que é possível ver na Europa.”
Assim Setúbal possui uma autêntica relíquia natural, vegetal e florestal, que a todos compete utilizar, estimar e proteger.
Professor Alberto de Sousa Pereira