O presidente da Câmara Municipal de Setúbal, André Martins, destacou no sábado os direitos conquistados pelas mulheres com o 25 de Abril, durante a apresentação do livro “Liberdade no Feminino”, realizada no Salão Nobre dos Paços do Concelho.
“O 25 de Abril constitui um momento de forte rotura com um passado de menorização e repressão das mulheres, com um passado em que as mulheres eram subalternizadas e destinadas a um fim que já sabiam ser certo. Ou ficavam na lida da casa, a tratar de maridos e filhos, ou aceitavam empregos mal pagos e sem possibilidade de progressão”, recordou o autarca, perante muitas das mulheres que deram testemunho para o livro.
“Liberdade no Feminino”, coordenado por Alexandrina Pereira, reúne testemunhos de 50 mulheres, de várias faixas etárias e estratos sociais, sendo uma iniciativa apoiada pela Câmara Municipal e integrada nas comemorações dos 50 Anos do 25 de Abril em Setúbal, “Venham Mais Vinte e Cincos”.
Após afirmar que o livro “serve para olhar para o passado pelos olhos de quem o viveu, mas também pelas memórias de quem ouviu a mãe contar como vivia, de quem sentiu a pobreza transmitida pela voz do pai”, André Martins citou o testemunho de Cátia Oliveira, nascida 10 anos depois da Revolução e hoje conhecida em todo o país como A Garota Não.
Já nascida em liberdade, a cantautora lembra que lhe foram transmitidas memórias do “trato dos maridos brutos”, do “desamparo das mulheres”, da “desigualdade de tarefas”, da “subserviência feminina”, da “impossibilidade de votar”, dos “abortos escondidos" e das "mulheres que morriam nessa clandestinidade" ou das "crianças que pairavam nas ruas dias inteiros porque as mães iam trabalhar e o país não tinha creches para gente sem dinheiro”.
O autarca considerou que este era um “poderoso testemunho” porque “dá a dimensão do que era a vida das mulheres” e porque mostra que “a memória de tempos obscuros foi passada a uma nova geração que não deixará nunca morrer essas malditas recordações” nem que se volte atrás.
Recorda depois o testemunho de Dilar Pimpão, que tinha 32 anos quando aconteceu o 25 de Abril e agora afirma que "nem tudo está bem”, mas desde então vive-se “noutro país", no qual a felicidade se traduz nos convívios diários com as pessoas de quem gosta e que gostam de si. "Danço, canto, faço teatro, sou feliz. Sou livre!”, sublinha Dilar Pimpão.
“Eis as duas palavras que resumem os testemunhos destas 50 mulheres nos 50 anos do 25 de Abril. As duas palavras que resumem este livro coordenado por Alexandrina Pereira e a que a Câmara Municipal, desde a primeira hora, se quis associar para também assim deixarmos gravada nestas comemorações a expressão do que é a liberdade no feminino”, disse André Martins.
O presidente da Câmara agradeceu a Alexandrina Pereira e a todas as mulheres que participaram no livro, que tem prefácio de Mónica Duarte, desejando que se continue a trabalhar em conjunto para que Setúbal “seja sempre uma cidade de Abril”, construída com a participação de todos. “Porque as cidades, as revoluções, as democracias são sempre, mas sempre, obras de muitos homens e de muitas mulheres”, concluiu.
Alexandrina Pereira agradeceu à Câmara Municipal por tê-la convidado para a comissão das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e depois por ter integrado o projeto “Liberdade no Feminino” no programa comemorativo.
Agradeceu depois o apoio das juntas de freguesia de Azeitão e de São Sebastião e da União das Freguesias de Setúbal – cujos presidentes, Sónia Paulo, Luís Matos e Rui Canas, estiveram presentes –, bem como, entre outros, ao historiador Diogo Ferreira e a todas as mulheres, com idades entre os 40 e os 83 anos e “de todas as classes sociais”, que aceitaram partilhar as suas histórias de vida.
“Leiam todos os depoimentos, porque a beleza está aí, na diferença de cada uma”, afirmou a coordenadora do livro, antes de chamar duas mulheres nascidas antes do 25 de Abril, Regina Marques e Célia David, e duas nascidas depois da Revolução, Maria Luís Bento e Rita Curto Mesquita, para lerem extratos dos seus depoimentos e de ela própria ler o seu testemunho, que, no entanto, não integra o livro.
No final, “como uma forma singular de agradecimento”, a presidente da Junta de Freguesia de Azeitão, Sónia Paulo, que também tem um testemunho no livro, entregou um ramo de flores e uma imagem de José Afonso a Alexandrina Pereira. “Eu cresci em liberdade e percebi aqui o que algumas pessoas e algumas famílias passaram. É importante que eu saiba, mas é muito mais importante que o meu filho saiba”, notou.