Em tempos onde as culturas se cruzam com maior intensidade, a história de Pemba e Don-Ruelas é um exemplo vivo de como as origens multiculturais podem transformar-se numa poderosa plataforma de expressão artística. Ele, angolano e holandês; ela, angolana com raízes africanas profundas e diversas influências portuguesas. O casal artístico encontrou em Setúbal, onde residem atualmente, o espaço ideal para desenvolver um trabalho que funde as suas experiências e identidades.
O ponto de partida para esta história foi em Angola, durante um projeto em tempos de pandemia, em 2020. Foi nesse cenário que Pemba e Don-Ruelas se conheceram, dando origem não só a uma parceria pessoal, mas também a uma união artística. “A multiculturalidade entre nós dois nasceu da paixão e do amor que partilhamos desde então”, conta Pemba. O casal acredita que a mistura das “águas holandesa, angolana e portuguesa” proporcionou-lhes uma visão alargada para criar e transmitir as suas histórias.
A parceria “Two in one”, que representa a colaboração entre Pemba e Don-Ruelas, é a materialização desta união. Sob este nome, já expuseram os seus trabalhos em locais como o Braço de Prata, a Casa da Baía em Setúbal e até em hotéis em Lisboa. Apesar de viverem atualmente em Setúbal, Pemba e Don-Ruelas mantêm uma forte ligação às suas origens africanas, o que se reflete profundamente nas suas obras.
Embora trabalhem de forma independente, existe sempre uma fusão constante de ideias. “A Pemba pinta e eu sugiro, e vice-versa. As nossas críticas mútuas tornam as obras mais ricas”, explica Don-Ruelas. Enquanto ele trabalha maioritariamente com pintura sobre fotografia, explorando temas críticos e atuais, Pemba concentra-se na pintura sobre tela, retratando histórias ancestrais e simbologias africanas. Apesar das diferenças estilísticas, as cores vibrantes utilizadas por ambos criam um elo visual entre os seus trabalhos.
Outro aspeto singular do trabalho de Two in One é a forma como combinam diferentes meios de expressão plástica, como pintura, fotografia, vídeo e instalação. A seleção do meio depende sempre da história que desejam contar. “A comunicação é a base de tudo na nossa coletividade e nas nossas criações”, destaca Pemba. Cada peça nasce de uma ideia compartilhada, que ganha forma através de um processo colaborativo fundamentado numa história ou mensagem.
Para Don-Ruelas, a arte é uma forma de transformar o que é percebido como feio ou banal em algo belo e significativo. “Procuro combinar o que é real com o surreal, criando uma hiper-realidade que provoca reflexão”, afirma. Já Pemba acredita que as cores, elemento comum no trabalho dos dois artistas, são o elemento-chave para a universalidade do seu trabalho. “As cores trazem vida, educação, mudança social e política. A arte tem a capacidade de transformar tudo ao nosso redor.”
Ao longo da conversa, o casal reforçou ainda a importância de transmitir mensagens através da arte e da sua universalidade, promovendo transformações sociais e culturais. Para eles, o mundo oferece uma infinidade de inspirações, e cada peça criada representa uma história, um momento ou uma visão que merece ser partilhada.
No próximo sábado, Two in One vão inaugurar a sua exposição, apresentando não só os seus trabalhos, mas também as histórias por detrás de cada peça. “A arte é mágica”, conclui Don-Ruelas. E com esta magia, o casal continua a desafiar fronteiras culturais, a inspirar através das cores e a construir uma narrativa única que celebra a diversidade.