O presidente da Câmara Municipal de Setúbal, André Martins, salientou dia 7 de abril, num encontro, que a formação desportiva, além de desenvolver o rendimento dos jovens enquanto atletas, favorece fatores como integração, comunicação, educação e socialização.
A afirmação foi feita na abertura do VII Seminário de Gestão do Desporto de Setúbal, dedicado ao futebol de formação, uma iniciativa organizada pela Câmara Municipal de Setúbal, com o apoio do Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ) e da Associação de Futebol de Setúbal, que decorreu no Fórum Municipal Luísa Todi com cerca de 250 inscritos, entre dirigentes, treinadores e professores e estudantes de desporto.
“A formação desportiva em futebol, além de desenvolver um plano de formação com vista ao rendimento futuro dos atletas, é, também, e especialmente na sua base, um processo que favorece as trocas sociais, a melhoria das relações de comunicação e a convivialidade. Pode, por isso, ser encarada, paralelamente, com uma via de integração, educação pessoal e dinamismo social”, afirmou o presidente André Martins.
O seminário teve a participação do vice-presidente e diretor técnico nacional da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), José Couceiro, do diretor técnico do futebol de formação do Benfica, Pedro Marques, do gestor executivo e do team manager do futebol de formação FC Porto, Miguel Ferraria e Nuno Pereira, do diretor técnico e do coordenador técnico da formação do Sporting, João Couto e Marco Santos, do coordenador geral da formação do Vitória FC, Carlos Chaby, e do treinador e formador de treinadores Luís Dias.
André Martins admitiu que as várias entidades representadas no evento têm “envolventes e estratégias de formação diferentes”, mas sublinhou que, “independentemente de cada um dos modelos de gestão ou de escala a desenvolver, as suas ações caracterizam-se, acima de tudo, por privilegiar os atletas na otimização e estabilização dos seus próprios projetos, bem como na capacitação da performance em que estão implicados”.
Por ocuparem “um lugar fundamental na formação de vastas camadas da população jovem”, o autarca observou que a FPF e os clubes“são potenciais meios de intervenção formativa que contribuem para a educação da prática desportiva” dos jovens e classificou o futebol como “um barómetro” para “atestar como as várias disciplinas ligadas ao Desporto são cada vez mais importantes e estão cada vez mais presentes nas diversas áreas da formação dos atletas”.
O presidente da Câmara Municipal de Setúbal desejou que o seminário contribua para conhecer “os principais fatores que estão subjacentes à existência dos modelos de formação” dos clubes que nele participam, bem como para “divulgar, promover e discutir exemplos de Gestão, de Métodos, de Programas ou de Modelos aplicados ou em aplicação” nos mesmos.
“Tem, também, como finalidade facilitar o encontro e a exploração de ideias entre parceiros associados à Gestão e Organização dos Modelos de Formação em Futebol. É o que esperamos que possa acontecer durante este dia em que se discute muito mais do que o futebol. Em que se analisa, acima de tudo, a complexidade deste moderno fenómeno desportivo que apaixona e motiva tantos milhões de pessoas em todo o planeta”, concluiu.
Ao abordar o tema “O processo de certificação” da FPF, iniciado na temporada desportiva de 2015/16, José Couceiro destacou a sua importância por ser “estruturante” e disse que, embora o mesmo decorra da lei, porque “não se podem fazer contratos de formação desportiva sem processo de certificação”, a federação pretende ir mais longe do que a legislação determina.
“Queremos melhorar o nível da qualificação da formação desportiva em Portugal”, garantiu o antigo treinador do Vitória Futebol Clube, frisando que “no centro de tudo está o jogador” e que “a aposta é nas pessoas”, pois assim também se formam os adeptos do futuro, tendo em conta que nem todos os atletas da formação chegam ao topo. “Todos nos lembramos do nosso primeiro professor…”, referiu Couceiro por diversas vezes.
De acordo com o vice-presidente e diretor técnico nacional da FPF, o objetivo tem de ser alcançado “pela educação e não pela imposição”, uma vez que nunca viu “um grande jogador que não tenha começado pequenino”.
José Couceiro deu depois dois exemplos do sucesso do processo de certificação das entidades formadoras: hoje a maioria dos clubes presentes no Plano Nacional de Ética no Desporto é de futebol, por isso ser um dos requisitos, e todos os treinos e jogos de cada entidade certificada têm de ter presente suporte básico de vida, o que se conseguiu com o envolvimento das autarquias, “que dão um apoio fantástico ao futebol”.
Depois de ter apresentado “Os quatro pilares do futebol de formação do Sport Lisboa e Benfica”, Pedro Marques apontou alguns dos constrangimentos que hoje se colocam aos clubes no recrutamento de talento, recordando que “nos últimos 40 anos a taxa de natalidade baixou para metade”, o que diminui as hipóteses de seleção, e agora “o digital, o e-sports e as outras modalidades são concorrentes” do futebol.
Além disso, manifestou preocupação com a profissionalização e o agenciamento precoce de jogadores, logo a partir dos 12 ou 13 anos, apontando que alguns jovens querem ter um agente por pensarem que assim é mais fácil chegarem às seleções nacionais e “os pais por vezes pensam que têm ali uma galinha dos ovos de ouro”.
Além de reforçar que muitos pais têm esta atitude, Miguel Ferraria, que, em conjunto com Nuno Pereira, deu o exemplo do FC Porto na “Gestão desportiva no futebol”, indicou ser preciso “acreditar no processo” de formação e avaliar os resultados desportivos “de forma muito fria”, pois “há a tendência para considerar que se a bola bate no poste e entra está tudo bem e se bate no poste e sai está tudo mal, quando não é bem assim”.
Durante a tarde, João Couto e Marco Santos, do Sporting, falaram sobre um “Modelo centrado no jogador”, Carlos Chaby sobre o “Passado, presente e futuro da entidade formadora Vitória Futebol Clube” e Luís Dias sobre “Jogar com pés e cabeça”.