A muda de São Caetano

A muda de São Caetano

Virgínia Rosa era conhecida como a «muda de São Caetano», pois residia, com uma irmã solteira, na atual Avenida dos Combatentes, perto do antigo chafariz, já demolido, de São Caetano.

Nasceu em 1856 e era muda, baixa e com má aparência física. Na cidade a sua imagem e o nome eram utilizados, por algumas mães, para assustarem os filhos, pois a Virgínia dava uns gritos, próprios dos surdos-mudos, o que muito assustava as crianças.

Nunca frequentou a escola, entretinha-se nas tarefas domésticas e ganhava a vida a arranjar os tamancos das mulheres que trabalhavam nas fábricas de conservas de peixe.

Na sua juventude, em 1896, teria tido um caso amoroso com um homem de Palmela, também se falou numa violação, da qual resultou o nascimento de um filho. O seu filho casou e teve dez filhos, dos quais uma filha também era surda-muda como a avó.

Enquanto a sua irmã foi viva, a Virgínia teve uma vida decente, mas depois, em 1934, com o falecimento da irmã, começaram as suas dificuldades económicas.

Morreu trucidada por um comboio, na passagem de nível do Quebedo, em setembro de 1944, com avançada idade de 88 anos. Tudo indica que devido à sua surdez não se apercebeu da aproximação comboio.

Foi fotografada, nos inícios dos anos 40, pelo fotógrafo Américo Ribeiro, o que lhe deu uma enorme alegria. A sua fotografia ficou para a posteridade, retratando bem a miséria em que viviam muitos setubalenses idosos nos anos quarenta.

Professor Alberto de Sousa Pereira