A loja de roupas Kally

A loja de roupas Kally

Durante dezenas de anos existiu uma loja roupas, no Largo da Misericórdia, com o insólito nome de Kally. O proprietário era comerciante António Graça que começou a sua carreira como caixeiro numa loja de fazendas. De lá saiu para se instalar, em 1943, como comerciante na Rua Augusto Cardoso, número oito. A loja tinha a designação de Kally, pois apareceu nos cinemas um filme de aventuras no qual surgia uma deusa Kally. O Augusto Graça costumava brincar com o assunto, os amigos começaram a chamar-lhe Kally. Logo de início a sua loja anunciava a célebre frase publicitária “Kally vende e o mundo consome” que sempre o acompanhou.

Nos anos 50 abriu a loja do Largo da Misericórdia, 20. Como tinha um sentido notável para publicidade, logo começou com campanhas publicitárias inéditas.

Assim, em setembro de 1957 foi a campanha de vendas de calças para homem com a frase publicitária “Em cuecas? Só anda quem quer!”

Noutra ocasião colocou, na montra, um manequim vestido a rigor, com um letreiro que dizia: “Tudo, menos o boneco, por XX escudos”. Mais tarde o mesmo manequim, bem-vestido e calçado, tinha o letreiro “Entre, dispa-se e vista-se por YY escudos”. Quando surgiram, nos anos 60, as calças da marca “Levis”, na loja havia dezenas de calças de ganga, em monte, com uma tabuleta que dizia “LEVES? Só no preço!”. Ficou célebre, até pelo quase cunho político, um conjunto de sobretudos postos à venda com o aviso “Acabados de chegar da Rússia, especialmente para esta casa.”

O comerciante António Graça veio a falecer em agosto de 1986 por queda da janela do andar em que vivia. Assim faleceu inglório um setubalense que noutras circunstâncias poderia ser um publicitário de sucesso.
Professor Alberto Sousa Pereira