Quem circula pela Rua Fran Pacheco ao chegar à Travessa do Carmo encontra, à esquina, uma casa com três cabeças de pedra no cunhal e umas palavras estranhas. Ainda há uma quarta cabeça sobre uma das entradas da casa. Tal prédio é conhecido vulgarmente como “A casa das quatro cabeças” e está tradicionalmente ligado a uma conspiração contra o rei D. João II.
Segundo a tradição, em 1480, um grupo de fidalgos resolveu assassinar D. João II, que passava largas temporadas em Setúbal, quando ele fosse na procissão do Corpo Deus. Os conjurados estariam emboscados nesta casa. Mas a conspiração foi descoberta e os autores executados.
Na realidade D. João II teve várias conspirações contra si, mas a referente a esta casa foi apenas uma lenda criada por Alexandre Herculano na novela “Mestre Gil, crónica do século XV” que foi publicada na revista O Panorama, em 1839 e, a partir daí, a lenda passou a verdade histórica, infelizmente.
A cabeça do centro do cunhal tem a frase em latim “Esperat in deo” que significa “Esperai em Deus”. Na porta principal há outra cabeça com uma frase, também em latim, que diz "Se Deus é por nós quem será contra nós" Tudo indica que as pedras com as cabeças e as frases pertenciam a uma construção religiosa derrubada no terramoto de 1755. As pedras teriam sido então aproveitadas para o novo prédio, entretanto construído.
O prédio ficou muito degradado, mas em finais de 2012 a CMS deliberou, e bem, comprá-lo e depois restaurá-lo completamente. Hoje é uma unidade de Alojamento local a cargo da Pousada da Juventude. Um final feliz para um edifico lendário e simbólico da cidade.
Professor Alberto Sousa Pereira