Em Junho de 1943 a Câmara Municipal de Setúbal (C.M.S.), soube que uma senhora estrangeira, Martha Bras, pretendia oferecer au Município, um vaso chinês de bronze “de grande valor histórico”. Em agosto de 1942 o seu filho, Walter Bras, velejador de longo curso, tinha aportado em Setúbal, depois partiu para o Algarve, mas nunca lá chegou pois foi “levado por uma vaga”.
Este vaso chinês, que está colocado no patamar da escadaria, é um queimador de incenso que existe nos templos budistas chineses. O vaso está quase cheio de areia, o crente budista espeta um pau de incenso na areia e depois faz uma prece na qual pede o auxílio dos seus antepassados.
Na parte exterior do vaso há uma inscrição em chinês antigo. Durante anos essa inscrição foi um mistério até ser finalmente decifrada já neste século. O autor deste artigo tem um antigo aluno que casou com uma senhora chinesa. Ela fotografou a frase com uma câmara digital, foi enviada para a China e em três dias o mistério, com mais de 50 anos, estava resolvido.
A inscrição diz o seguinte: “Feito na Dinastia Ming, no tempo do Imperador Jia Jing aos seus 39 anos de idade.”
Ou seja, em português corrente: “Feito em 1542”.
No vaso há ainda uma pequena inscrição, no rebordo, que significa "O melhor no Mundo" ou "Número 1". Talvez fosse o primeiro vaso a ser fundido pelo artífice ou uma frase publicitária sobre as qualidades da oficina.
Assim, a cidade de Setúbal pode orgulhar-se de possuir um objeto de valor histórico vindo da longínqua China.
A melhor homenagem que podemos prestar ao falecido velejador é, quando um dia nos deslocarmos aos Paços do Concelho, subirmos a escadaria e observarmos, com atenção, este magnífico exemplar da arte chinesa do século XVI.
Professor Alberto de Sousa Pereira