"O Elmano"

"O Elmano"

A imprensa republicana publicita a ideia de que as condições estão propícias para a Revolução.

A imprensa republicana e os principais dirigentes do partido, antes, durante e nos dias após o Congresso de Setúbal, (23, 24 e 25 de Abril de 1909) vão fazer passar a mensagem de que as condições objetivas e subjetivas da sociedade portuguesa estariam maduras para apressar o advento da nova era anunciada – a era republicana.

A imprensa afeta ao partido contribui para a construção de um ambiente politicamente revolucionário.

O jornal A Lucta num artigo de 15 de Abril, sugestivamente intitulado “A Revolução” espanta-se pelo facto de ainda não ter triunfado a revolução. Refere ainda que a revolução que se aproximava devia beneficiar os prejudicados de sempre.

Este jornal analisa a situação explicando que a crise económica é cada vez mais profunda, os partidos monárquicos estão cada vez mais divididos e por isso integram um empecilho objetivo ao desenvolvimento do país. Um rei jovem, política e tecnicamente impreparado para a governação do país, agrava a situação.

Os dirigentes republicanos seriam legitimados e consagrados para a governação no Congresso de Setúbal “pela maior assembleia partidária que se tem feito até hoje em Portugal”. Ficariam com a responsabilidade de “guiar a grande massa republicana para a vitória final”.

Para legitimar a opção pela via revolucionária, O Mundo chega a explicar que o Congresso de Setúbal não foi verdadeiramente um Congresso partidário e que o Partido republicano é mais do que um partido político:

O Congresso toma, por isso, as funções duma verdadeira assembleia nacional, dum legítimo parlamento. Nele vão sintetizar-se e expandir-se as aspirações de um povo por meio dos seus delegados.

João Chagas num dos discursos mais inflamados sustenta que o “Estado social tal qual é hoje – é de verdadeira guerra civil”. A conclusão óbvia era a de que o PRP seria o único em condições de salvar o país dessa guerra.
Afonso Costa por sua vez em entrevista ao jornal O Mundo refere que a revolução não pode ser “nem anárquica nem destruidora”.

Cada vez mais no Congresso Republicano de Setúbal, estava sobretudo em causa a questão da eleição de um Direcório que tivesse capacidade e legitimidade suficientes para organizar e dirigir a revolução. Esta preocupação é manifestada, pela Voz Publica, que sublinhava, “A próxima eleição do Diretório tem de ser feita com todo o cuidado e com máxima consciência”.

Por seu lado a imprensa monárquica não deixa de se referir às pretensões do PRP. A A Nação na sua edição de 24 de Abril dava destaque ao Congresso, acusando os congressistas ali reunidos de sectários e desordeiros:

“Está funcionando em Setúbal um novo congresso do partido republicano, com poderes d’eleger o futuro directório d’aquella facciosa e activa grei politica que se julga senhora do paiz. A liberdade não lhe tolhe a acção e os republicanos trabalham sem descanso, pretendendo a gerência do Estado (...) o Congresso de Setúbal há de ser falado, demonstrando a desunião e as ambições que vegetam no campo da nossa sectária”.

Afonso Costa assume, na entrevista ao jornal O Mundo, que o grande objectivo do Congresso de Setúbal era a preparação da mudança política – “o primeiro e o mais importante é o da concentração e coesão de todas as forças partidárias para a preparação tão próxima quanto possível, e tão reflectida e segura, que não consinta surpresas, do inevitável movimento revolucionário, que há-de criar a República”.

De acordo com a opinião publicada republicana estavam criadas as condições para o triunfo da revolução e para que a facção revolucionária saísse vencedora no Congresso de Setúbal.

Professor Doutor Albérico Afonso Costa