O que mais individualiza Setúbal nos finais do século XIX e inícios do séc. XX é o seu processo de industrialização.
De comunidade rural e piscatória tradicional, em poucos anos, a cidade vai ascender a espaço fabril e urbano, transformando-se num importante centro de indústria conserveira.
Entre os finais do século XIX e inícios do século XX o concelho de Setúbal vai sofrer um enorme aumento demográfico. Em 1890 a população do concelho era de 29.320 habitantes passando para 47.783 em 1911, com um aumento de mais de dezasseis mil pessoas.
Por sua vez o aumento demográfico na cidade ainda é proporcionalmente mais significativo, passando dos 17.581 habitantes em 1890 para 30.346 em 1911.
A principal razão destas grandes alterações demográficas está associada à implantação da indústria de conservas de peixe e às outras atividades económicas que lhe estão associadas.
Ao desenvolvimento económico e ao crescimento urbano associa-se um crescimento intelectual e associativo. A cidade do início do século é marcada por um grande número de associações mutualistas e sindicais, que lhe dão um traço de rebeldia que se manterá no seu ADN citadino. De igual modo, a existência de uma imprensa periódica variada marcará a vida intelectual e urbana.
A imprensa destes anos é, de facto, notável. Jornais múltiplos pertencentes a variados quadrantes políticos, formam e informam uma população que é massacrada por jornadas de trabalho longas e densas e por salários tímidos que se evaporam nos primeiros sopros dos fiados saldados.
Entre finais do século XIX e o advento da República são editados em Setúbal dezenas de jornais. Em 1884 surge a Revista de Setúbal ligada ao Partido Regenerador.
O Districto aparece em 3 de Outubro de 1886 defendendo as perspectivas do rotativismo oligárquico. Ainda em finais do século XIX A Opinião e o Echo de Setúbal, impulsionados por Paulino de Oliveira, são os primeiros jornais setubalenses que se reivindicam do republicanismo. O Trabalho será a publicação mais próxima das posições do Partido Socialista. O Germinal nascido em 1903 é inspirado nas posições anarco-sindicalistas.
Na vida difícil da cidade destes anos, surgem greves tempestuosas, reivindicações, ultimatos operários, manifestações, movimentos sempre reprimidos pela omnipresente polícia monárquica.
Em abril de 1895 tinha sido eleita a primeira Comissão Municipal Republicana, que nos anos seguintes, anos intensos, não parará de aumentar a sua influência política.
É neste contexto de inflamada temperatura ambiente, que a cidade é escolhida para palco do Congresso do Partido Republicano.
Cidade cúmplice, esta que assistiu, participou e se ofereceu generosa a este espaço de pensamento republicano que vai assertivamente apontar o caminho para a revolução de 5 de Outubro de 1910.
Professor Doutor Albérico Afonso Costa